5 DE JULHO DE 1811
5 DE JULHO DE 1811
Hector Zamarripa (*)
No ano de 1783, justo quando nascia Simón Bolívar, Francisco de Miranda, o precursor da independência da América hispana, concebe a idéia de uma América Meridional livre e unida numa só grande nação. Por mais de 33 anos sem interrupção, não houve um instante sem que este pensamento não estivesse presente em suas leituras, escrituras, seu andar pelo mundo ou em suas conversas com as distintas figuras do seu dia a dia entre eles reis, primeiros ministros, políticos, militares, filósofos, poetas músicos ou simples viajantes.
Homem de milícias desde curta idade serve ao exercito da Espanha do qual deserta e se embarca num navio norte-americano rumo à Havana para fugir da inquisição à qual tinha sido condenado por ler e publicar livros que falavam de outra forma possível de governo e do direito dos povos à liberdade.
Como capitão do Batalhão “La Princesa”, na Espanha, conheceu de perto as idéias de Voltaire, de Rousseau, de Locke, de Montesquieu e muitos mais. Posteriormente participaria ativamente nos Estados Unidos, na guerra de independência daquele país. Foi tal o grau de conhecimento que adquiriu que o próprio presidente John Adams escreveu em suas memórias que “não tinha nos Estados Unidos nem no mundo inteiro, ninguém que conhecesse melhor e com maior precisão cada uma das batalhas livradas contra Inglaterra, do que Francisco de Miranda”.
Com essa experiência se convence de que não só era possível senão que sobre tudo se tornava necessário e inadiável romper as correntes opressoras da Europa. Para isto devia iniciar sua luta independentista com a libertação da Venezuela, sua pátria e começa a traçar os planos militares para tornar realidade à independência venezuelana.
Parte para Europa para conhecer melhor o seu inimigo e definir a estratégia e consegue realizar grandes mudanças no seio da sociedade de Constantinopla e Dinamarca. Evadindo a perseguição dos espanhóis que seguiam os seus passos de perto. Chega à Rússia e após sua entrevista com a imperatriz Catalina da Rússia, esta não só se negou a entregá-lo ao embaixador espanhol que em nome de Carlos III o reclamava, como também o nomeia Oficial do Estado Maior Russo, ficando assim um tempo comandando tropas russas e sempre carregando e alimentando o projeto de emancipação da Venezuela.
Na França revolucionária, aperfeiçoa sua destreza comandando o exército francês como Marechal de Campo e desde lá escreve para os venezuelanos “Concidadãos, é preciso derrubar esta monstruosa tirania. É preciso que os verdadeiros credores retomem os seus direitos usurpados. É preciso que o controle da autoridade pública volte às mãos dos habitantes e nativos a quem uma força estrangeira lhes tirou esse direito, pois o mais certo é que um governo de semelhante conquistador é quanto há demais de ilegítimo, demais de contrário às leis da natureza e que deve imediatamente ser derrubado”. Tudo isso tinha em mente Miranda, quando depois de realizada uma tentativa de invasão para libertar a Venezuela se encontra com Bolívar quem carregava sobre os seus ombros após seu juramento a imensa responsabilidade de dar vida aos moribundos, soltura aos oprimidos e liberdade a todos. Não em vão, Bolívar comentando sobre a coroação de Napoleão como Imperador diria “Olhei como se fosse uma coisa miserável aquela coroa que Napoleão colocou na sua cabeça, o que me pareceu grande foi à proclamação universal. Isto me fez pensar na escravidão do meu país e na glória que caberia a quem o libertasse; porém nunca imaginei que tal fortuna me aguardaria”!
Em Caracas já em 1810, Miranda, Bolívar e outros grandes revolucionários, logram instaurar uma Junta Patriótica e no dia 03 de julho de 1811 começam os profundos debates onde Bolívar falava: “Não é que há dois Congressos, como fomentarão o cisma os que mais conhecem a necessidade da união? O que queremos é que essa união seja efetiva e que nos anime à gloriosa empresa da nossa liberdade; unir-nos para repousar e dormir nos braços da apatia, ontem foi uma míngua hoje é uma traição, Se discute no Congresso o que já deveria estar decidido. E que dizem? que devemos começar por uma confederação, como se não estivéssemos confederados contra a tirania estrangeira, e que devemos atender os resultados da política da Espanha. Que nos importa que Espanha venda a Bonaparte seus escravos ou que os conserve se estamos dispostos a ser livres?
Essas dúvida são tristes efeitos das antigas correntes, que os projetos devem preparar-se com calma! Trezentos anos de calma não bastam? A Junta patriótica respeita, como deve o Congresso da nação, porem o Congresso deve ouvir à Junta Patriótica, centro de luzes e de todos os interesses revolucionários. Ponhamos sem temor a pedra fundamental da liberdade sul-americana, vacilar é perder-nos. Proponho que uma comissão do seio deste corpo leve ao soberano Congresso estes sentimentos”.
O dia 05 de julho de 1811 selou-se a independência da Venezuela. O maior sonho de Francisco de Miranda se cristalizava nesse dia, o maior sonho de Bolívar O Libertador começava a levantar vôo.
(*) O autor é Internacionalista e
Secretário de Relações Internacionais
do Congresso Bolivariano dos Povos -
Capítulo Manaus.